quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Dogma da Arte




O Dogma da Arte é muito simples. Diz somente o seguinte:
 
"Faça o que quiser, desde que não prejudique a nada nem ninguém."  

Todos são livres para pensar como quiser, sentir como quiser, agir como quiser, se isso não interferir na vida de terceiros. É uma lei baseada na liberdade, na ação e no respeito. O Dogma da Arte é um dogma libertário, ao contrário da visão que normalmente temos da palavra dogma, que é um mandamento restritivo.
A primeira palavra do Dogma da Arte é "faça". Isso mostra que a atitude de um wiccan não deve ser passiva, mas ativa. Na Wicca, não há proibições e pecados. A Wicca também prega que esperemos que alguma entidade superior nos provenha do que necessitamos. Ao contrário, prega que nos esforcemos para conseguir o que queremos. A palavra-chave é "ousar".
Quando dizemos para não prejudicar a nada nem ninguém, isso inclui a si mesmo. Portanto, esse princípio não é uma desculpa para porra-louquice inconseqüente, para se afundar em drogas dizendo "ninguém nada a ver com isso" etc. Não, a primeira pessoa a quem não devemos prejudicar é a nós mesmos.
Um ponto importante a se falar sobre o Dogma da Arte é o hábito que a maioria das pessoas tem de julgar os seus semelhantes. Infelizmente, esse é um hábito disseminado por todo o mundo!! As pessoas em geral adoram dizer sobre os outros opiniões como "isso é errado", "isso é imoral", "você não deveria pensar desse modo", "que ridículo!", "como alguém pode fazer algo assim??". Ora, se todos são livres para fazer o que quiserem, por que julgá-los dessa forma?
Com isto, caímos nos padrões impostos por uma sociedade que nada acrescenta, e sim, tenta padronizar seus membros, instituindo valores a serem seguidos para sua aceitação.
Mesmo entre wiccans vemos situações como essa. Desafortunadamente, muitos dos que abraçam a Wicca como religião não o fazem de coração e sim porque se impressionam com o seu "exotismo" e a ilusão de que com ela terão poder imediato ao praticar a magia. E acabam se esquecendo dos pontos principais da religião, como o Dogma da Arte. Parece até que criam um Pseudo-Dogma da Arte Alternativo: "Faça o que quiser, desde que eu possa me meter na sua vida e te condenar."
Quem quiser agir de uma forma que pareça condenável perante a sociedade que o faça, se achar que deve. Não interferindo na vida dos outros e agindo em honestidade com os seus princípios pessoais, deve-se fazer o que quiser. Na Wicca não se age para agradar a uma Deidade superiora, mas para ser honesto consigo mesmo, sem se importar com a opinião alheia.
A honestidade em relação aos princípios pessoais é algo que tem sido pouco falado entre os wiccans em relação ao Dogma da Arte, apesar de ser da maior importância. O que significa "Faça o que quiser"? Isso não é fazer o que dá na telha de uma hora para outra, mas agir conforme os seus verdadeiros desejos, muitas vezes desconhecidos para nós mesmos. A verdade é que poucos de nós realmente possuem um bom auto-conhecimento. Por isso se faz necessário procurar conhecer mais a si mesmo, saber quais são os seus verdadeiros intentos. Caso contrário, só se faz o que a situação exige e passa-se a ser escravo das circunstâncias.
Com certeza não é esse o projeto da Wicca!!! O wiccan deve tentar se conhecer melhor para realmente pode "fazer o que quiser" e não o que as circunstâncias o obrigarem e depois ter a ilusão de que tudo aconteceu porque realmente quis.
Para isso, o método mais importante e mais usado pelos wiccans é a manutenção de um Livro de Sombras. O Livro de Sombras, como explicado melhor na seção sobre Instrumentos, é um caderno em que o wiccan anota tudo que ele aprende durante a sua jornada (rituais, feitiços, meditações etc), invocações, orações, mitos, poesia e – mais importante – as suas experiências pessoais.
Para o auto-conhecimento, é esse último aspecto do Livro das Sombras que mais importa. Sempre anote tudo o que você experienciar na Wicca. Anote sobre os seus exercícios de meditação, sobre os seus rituais, sonhos, pessoas que você conheceu, fatos importantes da sua vida (mesmo que não diretamente ligados à Wicca) etc. De tempos em tempos, vá relendo o que você escreveu. Tente procurar um padrão nas suas anotações. Analise-se sempre. Nunca relegue esse exercício. Ele é imprescindível.
Esse é o meio mais importante para o auto-conhecimento, mas há outros auxiliares que você pode querer usar. Um deles é o uso do tarot (ver a nossa seção sobre Divinação), que pode lhe proporcionar diversos insights úteis, ou algum outro oráculo divinatório, omo por exemplo baralho cigano, runas, I Ching, Varetas, Bola de Cristal, pêndulo, etc. Terapia também é útil. Todos têm problemas a resolver e talvez cada pessoa devesse fazer algum tempo de terapia durante um certo período da vida. Ler sobre mitologia, tentar procurar com quais divindades, heróis e outros seres mitológicos você se identifica também pode ser muito útil. O estudo da mitologia é realmente enriquecedor nesse sentido. A astrologia também fornece um bom método de auto-conhecimento. Saber as influências dos astros na sua personalidade facilita fazer uma auto-análise a aprender mais sobre os seus desejos internos. Isto faz com que possamos obter um "panorama geral" de nosso ser, e com isto, propicia muitas reformulações apartir daquilo que acreditamos poder ser melhorado.
Enfim, utilize-se de todos os métodos que puder para se conhecer melhor, em especial as anotações constantes (de preferência diárias) no seu Livro das Sombras. Só assim você realmente conseguirá "Fazer o que quiser, desde que não prejudique a nada nem ninguém". Acredite, os benefícios são os maiores possíveis.
Há mais uma confusão a se esclarecer sobre o Dogma da Arte. A sua leitura superficial pode dar a entender que os bruxos, quando prejudicados por terceiros, devem simplesmente aceitar o fato, mostrar a outra face e deixar tudo nas mãos dos Deuses. Não é bem por aí. Quando pessoas nos prejudicam, nós não devemos simplesmente mostrar a outra face. E também não devemos nos vingar. Na Wicca, temos outros métodos para lidar com esse tipo de situação.
O que fazemos é, por exemplo, feitiços de proteção para não sermos prejudicados. Alguns desses feitiços simplesmente neutralizam a ação dos nossos inimigos. Outros, funcionam de uma forma um pouco mais forte: se a pessoa fizer algo para nos prejudicar, tudo o que fizer não nos atingirá, mas irá refletir na vida dessa pessoa. Com isso, não a atacamos deliberadamente, mas ela receberá o troco se agir contra a gente. Se ela não atacar, nada acontecerá com ela. E assim respeitamos a segunda parte do Dogma da Arte: "desde que não prejudique a nada nem ninguém".
Nós, wiccans, não acreditamos em vingança, mas em justiça. E nós fazemos a justiça acontecer, com o auxílio dos Deuses.

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