sexta-feira, 25 de abril de 2014

A Lei Tríplice




Outro ponto essencial da Wicca. Essa Lei atesta que:


"Todo ato que cometermos reverterá a nós mesmos, multiplicado por três, nesta encarnação". 


Assim, se cometermos um ato bom, seremos três vezes abençoados. Se cometermos um ato ruim, três vezes amaldiçoados.


A Lei Tríplice costuma ser muito mal compreendida. O principal fator dessa má-compreensão é o fato de sermos abençoados ou amaldiçoados triplamente. À princípio, não faz sentido, principalmente se formos comparar com outras religiões e correntes esotéricas, que atestam que todos recebem de volta tudo aquilo que fizeram, na mesma medida. E não há nenhum bom motivo para existir uma lei de retorno especial para bruxos e outra para o resto do mundo.


Acontece que esse aspecto da triplicidade é simbólico. Isso foi tirado da magia celta. Para os celtas, o número três era sagrado. Como uma das maiores influências da Wicca é celta, Gardner, ao fundá-la, utilizou-se da sacralidade do três para compor a Lei Tríplice. Mas essa Lei não deve ser tomada ao pé da letra e, sim, simbolicamente. O retorno para todos os nossos atos, bons ou ruins, é claro que há. Mas não realmente multiplicado por três.


Há mais duas coisas que devem ser comentadas sobre a Lei Tríplice. O primeiro é sobre o conceito de bem e mal. Como foi dito acima, somos recompensados pelos nossos atos bons e amaldiçoados pelos maus. Mas o que é um ato bom e o que é um ato mau?


A Wicca não prega nenhuma regra moral de conduta. Não diz que as pessoas queimarão no Inferno por algum motivo. Na nossa religião não há mandamentos a serem seguidos e que, se não seguirmos, ‘não iremos para o Céu". O Bem e o Mal não são definidos por duas entidades inimigas: Deus e o Diabo. Não há regras tão definidas para definí-los. O que pode parecer bom a alguém pode parecer mal a outra pessoa e quem pode julgar quem está certo? Para a Wicca, é o próprio indivíduo que julga os seus atos (como dito acima, na parte sobre o Dogma da Arte) e não uma divindade superior ou uma hierarquia religiosa (que não existe na Wicca, uma religião com pouca ou nenhuma hierarquia).


Desse modo, não definimos o "mal" por aspectos morais, que não são nunca verdades perenes, mas apenas convenções sociais aceitas pelas massas. Algo ruim é simplesmente o que desrespeita a segunda parte do Dogma da Arte: "desde que não prejudique a nada nem ninguém". O que interferir negativamente na vida de outra pessoa é punido pelo Universo. O que não interferir, não é punido. O que favorecer a vida de terceiros abençoará a vida daquele que fez o fazer. O que não favorecer, não será abençoado. Quaisquer outros atos que não interfiram na vida de ninguém não são sequer julgamos, pois não há necessidade. Todos os seres são providos de livre-arbítrio para seus atos, tendo a liberdade de optar pelos caminhos a serem enveredados. Devemos sempre respeitar as opiniões alheias e jamais interferir. Todo conselho dado deve ser mensurado de maneira que não altere o caminho da pessoa. Acreditamos que devemos ser ótimos ouvintes, oque já é uma grande ajuda, mas jamais alterar aquilo que a pessoa deseja fazer.


Portanto, não se deve por causa da Lei Tríplice "temer e obedecer aos Deuses" ou qualquer coisa parecida. Deve-se é assumir a responsabilidade pelos seus atos e as suas conseqüências. O resto... é o resto. E não importa.


O último ponto a ser esclarecido sobre a Lei Tríplice é o fato de que tudo o que nós fazemos retorna a nós nesta encarnação. Comumente, na Wicca, não se acredita em karmas de vidas passadas. O pensamento é o do aqui se fez, aqui se paga. Uma nova vida é uma nova vida e não se deve nada. Todos nascem já abençoados. O seus atos nesta encarnação é que irão definir o que se receberá em troca e não os atos de outras encarnações.


Entretanto, não são todos os wiccans que concordam com essa afirmação. Há quem acredite que em karmas de vidas passadas e que aqui pagamos (ou recebemos) pelo que fizemos em outras encarnações. Ninguém será condenado se pensar assim. Cada indivíduo é livre para resolver essa questão de acordo com o que pensa, sente, estuda etc. Liberdade de pensamento é, com certeza, um dos ícones da Wicca.


Mas isso não importa. Acredite-se nesse pensamento ou não, uma coisa é certa: não se deve ficar lamentando a sua vida e jogando a culpa em karmas de vidas passadas. O que importa é o presente e o que faremos com ele. E se passamos por dificuldades é para que nos fortaleçamos ao superá-las. Nada no Universo é imposto simplesmente "porque sim".

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